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Burocracia e entraves que prejudicam comércio entre os dois países foram discutidos em seminário na embaixada do Brasil em Buenos Aires.

Brasília – “As nações não podem mais esperar as solução das crises políticas para seguir avançando. O mundo segue seu curso e a economia tem que buscar seu próprio caminho que, temos certeza, passa pelas pequenas e médias empresas”. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (29), em Buenos Aires, pelo presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, durante o Seminário Pymes Brasil-Argentina: Simplificación de Nuestro Comercio, realizado na Embaixada do Brasil na capital argentina e que reuniu empresários e especialistas dos dois países, além do ministro da Produção da Argentina, Francisco Cabrera. Entre os resultados do evento, que fez parte do projeto de implantação do Simples Internacional, foi elaborado um documento com sete recomendações aos governos dos dois países para descomplicar as operações.

Afif ressaltou que as pequenas e médias empresas são as primeiras a encontrar oportunidades em épocas difíceis e as que menos desempregam. “O que a gente tem que fazer neste momento é reduzir a ‘Cordilheira dos Andes’ de trâmites e burocracias e, principalmente, não atrapalhar”, completou. Ele destacou que hoje o desemprego nas grandes empresas tem origem estrutural, na aceleração da robotização do processo de produção industrial, e não conjuntural como muitos podem supor. “Os empregos tradicionais estão deixando de existir, o que contribui com a redução de vagas nas grandes empresas. Inversamente, isso não acontece nas pequenas, que continuam sendo geradoras de postos de trabalho, especialmente na área de Serviços”. Segundo o presidente Sebrae, nos últimos sete anos as micro e pequenas geraram 10 milhões de novas vagas, enquanto as grandes fecharam cerca de 1,5 milhão.

O ministro da Produção argentino, Francisco Cabrera, afirmou ter esperanças de que a crise política que afeta o Brasil não prejudique a retomada da economia.  Ele lembrou que o comércio entre os dois países caiu muito nos últimos anos e precisa ser recuperado com urgência. “Este encontro é uma oportunidade de estreitar o diálogo e aumentar a integração produtiva entre as pequenas empresas, a exemplo do que acontece com o setor automotivo”, declarou Cabrera, acrescentando que a principal preocupação da Argentina hoje é o emprego privado formal. “As pequenas e médias empresas são as que estão em melhores condições de gerar estas vagas e nossa missão é ajudá-las a seguir adiante”.

Durante o evento, empresários dos dois países debateram formas de simplificar as operações de comércio exterior, em especial os trâmites aduaneiros e a quantidade de exigências de certificados sanitários e fitossanitários. “Os empresários precisam fazer duas vezes os mesmos processos por falta de padronização de exigências entre os países, o que é um absurdo”, alertou o presidente da Câmara de Comércio Argentina Brasil, Jorge Zavaleta.

Operador Logístico

Entre as recomendações do documento elaborado pelo setor privado durante o seminário, está a figura do Operador Logístico, previsto pelo Simples Internacional, em dezembro passado, por instrução normativa da Receita Federal. “São empresas privadas, como a DHL e a UPS, já cadastradas, entre outras, que fariam todos os trâmites para o pequeno empresário. Este ficaria com um a única preocupação: fechar o negócio” destacou Afif, lembrando que hoje o emaranhado de burocracias é tão grande que a maioria das empresas desiste de vender a outros países. De acordo com pesquisa do Sebrae, sete entre 10 micro e pequenas empresas brasileiras que conseguem vender para fora do país não segue exportando nos anos seguintes.

O documento tem outras medidas, como facilitação aduaneira e integração de certificados sanitários e fitossanitários, melhorias em capacitação e, ainda, o desenvolvimento de uma legislação que permita aos pequenos e médios vender aos governos e a possibilidade de realizar toda a operação na moeda nacional de cada país, não sendo mais necessária a conversão, além, é claro, de uma velha conhecida: a facilitação dos trâmites aduaneiros.  “Não é possível que os empresários tenham que fazer as mesmas operações dos dois lados da fronteira”, comentou Zavaleta. Atualmente, nas fronteiras brasileiras com a Argentina, a média de tempo para a liberação de um caminhão é de 15 dias. Para o embaixador do Brasil na Argentina, Sergio Danese, há anos a agenda das pequenas e médias empresas “se arrasta” e está na hora dos governos responderem de forma mais eficaz.

Empresas conectadas

Durante o seminário, foi lançada a ferramenta Connect Americas na comunidade Brasil-Argentina. Criada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a rede social empresarial reúne micro e pequenas empresas para que busquem oportunidades de negócios entre si. Para o presidente do Sebrae, o futuro está na redes. “Se as pessoas se conhecem e até casam pela internet, porque não fazer negócios?”, indagou Afif. Para ele, esta seria uma maneira de encurtar caminhos, por exemplo, entre um empresário de Rosário e outro do Paraná.

A plataforma, que tem mais de 1,5 milhão de usuários em todo o mundo (sendo 150 mil de pequenas e médias, muitas das quais com vários usuários), ganhou um espaço específico para Brasil e Argentina, que está sendo usado como piloto. Até agora, são 260 empresas cadastradas dos dois países. “A ideia é que eles se conheçam,  integrem-se comercialmente e, quem sabe, no futuro, possam integrar-se também em suas plataformas de produção e tecnologia”, destacou Mariano Mayer, secretário de Empreendedores e Pymes do Ministério da Produção Argentina.

Em 2016, cerca de 25.550 empresas brasileiras exportaram. Dessas, 6.269 venderam para a Argentina, sendo que 14% (900) eram negócios de micro e pequeno porte, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Nesse mesmo ano, a corrente de comércio entre o Brasil e a Argentina atingiu US$ 22,5 bilhões, com exportações de US$ 13,4 bilhões e importações de produtos argentinos de US$ 9,1 bilhões.

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Fonte: Fenacon