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No primeiro semestre, negócios menores elevaram arrecadação tributária e reduziram pedidos de falência, mas turbulência política e econômica deve desacelerar retomada do segmento

A atividade das micro e pequenas empresas (MPEs) começou o ano mais aquecida, puxando a recuperação da economia do País, mas o agravamento de incertezas colocou um freio nesse processo.

Já se esperava um processo eleitoral turbulento para este ano, contudo, o enfraquecimento da governabilidade evidenciado pela greve dos caminhoneiros, a deterioração das perspectivas fiscais por falta de encaminhamento de medidas e a instabilidade externa estão deixando os pequenos empresários em estado de alerta.

É o que afirma a professora do MBA em Estratégia Corporativa e Gestão da Inovação da Business School São Paulo, Mônica Desiderio. Ela ressalta que, do lado do emprego, outro fator de intensificação das incertezas é a insegurança jurídica em torno da reforma trabalhista. “Aqueles que poderiam ser contratados como funcionários, estão sendo contratados pelas empresas como MEI [Microempreendedor Individual]”, comenta Desiderio.

Até maio, houve uma alta de 16% no número de MEIs, para 876.557 pessoas, na comparação com igual período de 217, com maior elevação em serviços (+14,8%, para 701.348), mostram dados da Serasa Experian. Na avaliação de Desiderio, até ocorrer uma definição da reforma trabalhista e do cenário político-econômico, as contratações ainda terão este perfil.

Outras informações da Receita Federal mostram, contudo, que as pequenas registraram expansão na atividade até maio. Nos primeiros cinco meses do ano, a arrecadação de impostos via Simples Nacional saltou 20%, em termos reais (descontada a inflação), para R$ 38,345 bilhões, contra iguais meses de 2017. Este é o segundo ano seguido de alta na receita do Simples, nessa base de comparação.

Os pedidos de falência das MPEs também caíram na comparação entre o primeiro semestre de 2017 e o mesmo período deste ano, ao passar de 417 solicitações até maio de 2017, para 372 requerimento.

“Desde 2017, observamos uma melhora das condições das pequenas empresas, motivada por uma perspectiva de recuperação da economia que não era nada desprezível”, destaca a professora de economia Fecap, Juliana Inhasz, a respeito das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 2,5% até o início do mês de maio.

Diante das dificuldades de recolocação no mercado de trabalho, a abertura de um negócio foi um caminho escolhido por muitas pessoas para tentar fugir do desemprego, outro fator que acabou incentivando a expansão do Simples. A coordenadora do MBA em Finanças do Ibmec/SP, Rina Pereira, acrescenta que muitas empresas aproveitaram o processo de expectativa de recuperação do PIB para se formalizarem.

Desideri destaca ainda que as MPEs são o segmento puxaram a recuperação no primeiro semestres. “De janeiro a maio, as pequenas empresas criaram 87% das vagas formais”, diz.

Reversão

Contudo, a confiança das MPEs perdeu força no fim do semestre. Depois de oito meses seguidos acima dos 50 pontos, o Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário caiu 7,8 pontos de maio para junho (ou 14,2% na variação percentual), marcando 46,4 pontos, revertendo, dessa forma, o ganho de otimismo dos meses anteriores.

“Indicador de confiança é como um indicador de antecedente da economia para os próximos seis meses”, comenta Juliana Inhasz. Para ela, isso significa que o cenário atual de fortes incertezas políticas e econômicas está colocando um freio na atividade e nos investimentos dos pequenos empresários, o que deve se refletir, no curto prazo, em perda de fôlego da arrecadação tributária oriunda do segmento, como é o caso do Simples.

“Essa queda de confiança mostra que as empresas estão com o sinal de alerta ligado. Se antes eles esperavam uma retomada mais rápida da economia, hoje, estão enxergando que a capacidade de recuperação perdeu força e, com isso, colocam o pé no freio nos investimentos”, reforça Inhasz.

Rina Pereira observa que as MPEs estão preocupadas em como e quanto o cenário econômico e político irão impactar as suas condições de funcionamento. “Há uma preocupação se, daqui a seis meses, por exemplo, eles terão que aumentar preço ou demitir para conseguir continuar operando”, ressalta Pereira .

De acordo com a professora do Ibmec-SP, essas preocupações estão relacionadas com a possibilidade de eventos semelhantes à greve dos caminhoneiros, que prejudicou a distribuição de produtos, como também com uma valorização mais forte do dólar em relação ao real, tendo em vista a aproximação das eleições.

Por fim, Desiderio reforça que a instabilidade externa, como a guerra comercial e o quadro fiscal do Brasil afetam a perspectiva de investimento das grandes empresas, movimento que recai para as pequenas que fazem parte da cadeia das companhias maiores.

(Fonte: Fenacon)