Agentes da Polícia Militar Rodoviária aplicaram, ao longo do ano passado, média de uma multa por minuto em rodovias da região devido ao excesso de velocidade. Durante o período, 579.230 autuações foram emitidas pela corporação em estradas que cortam municípios do Grande ABC.
Os dados integram levantamento feito pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem) – feito a pedido do Diário –, e levam em consideração infrações lavradas na Via Anchieta, Imigrantes, Índio Tibiriçá e trechos Leste e Sul do Rodoanel Mário Covas.
Juntas, as estradas registraram alta de 28,36% no número de multas aplicadas no ano passado em relação ao mesmo período de 2016, quando foram contabilizadas 451.264 infrações.
O maior número de autuações foi registrado na Rodovia dos Imigrantes, onde 298.140 motoristas foram flagrados em 2017. O número corresponde a 51% das multas por excesso de velocidades lavradas em estradas da região.
Responsável por ligar o Grande ABC ao Litoral paulista, a Via Anchieta, por sua vez, foi a estrada que teve maior alta no número de infrações registradas. De 2016 para 2017, o índice cresceu 99,13% – passou de 45.869 para 91.337. Segundo a Polícia Militar Rodoviária, a alta deve-se à intensificação de bloqueios na rodovia.
Considerada uma das infrações mais cometidas em todo o País, o excesso de velocidade, segundo especialistas, é hoje um dos principais desafios enfrentados pelo sistema de fiscalização da região.
Embora admitam que agentes policiais têm intensificado bloqueios em rodovias na tentativa de reduzir a imprudência de motoristas, especialistas em Segurança e Transportes são unânimes ao afirmar que o controle feito nas estradas de todo o País tem resultado pífio.
“O sistema de fiscalização não dá conta de flagrar todos os usuários que infringem a velocidade de rodovias. O efetivo de agentes ainda é muito pequeno se formos analisar o montante de veículos que circula por esses espaços”, aponta Luiz Vicente Figueira de Mello, especialista em Mobilidade Urbana da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
Para o integrante da comissão de trânsito da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo) Maurício Januzzi, embora a problemática seja antiga, nada tem sido feito para reverter este cenário. “Se o número de multas cresce, isso mostra que a fiscalização não tem inibido esses motoristas. Caso contrário, ninguém iria ultrapassar a velocidade permitida”, enfatiza.
Exemplo da realidade pode ser observado no SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) que, atualmente, conta apenas com dois equipamentos para medir a velocidade de veículos.
De acordo com a 1º tenente da Polícia Militar Driely, responsável por equipes que atuam no SAI, no entanto, a quantidade pequena de aparelhos não interfere no trabalho. “Há reuniões semanais com as concessionárias para definir o trabalho. Além disso, a fiscalização é feita de maneira revezada, em trechos diversos das rodovias.”
A redução dos indicadores, porém, segundo ela, depende da maior conscientização do condutor. “É necessário que os motoristas compreendam o risco de dirigir acima da velocidade. Recentemente tivemos o acidente da Imigrantes (leia mais ao lado), mesmo assim, dias depois flagramos uma BMW a 234 km/h na mesma rodovia. Neste caso, o motorista foi multado”, afirma.
Entenda as punições
O excesso de velocidade é infração dividida em três categorias: média, grave e gravíssima. A multa pode variar de R$ 130,16 a R$ 880,40, sendo que no caso mais grave o motorista pode ter a habilitação suspensa.
Imprudência causou a morte de duas pessoas na Imigrantes
A imprudência ao volante e a falta de fiscalização por parte de agentes de Segurança resultaram, no início do ano, na morte de duas pessoas e no ferimento de outras seis – após colisão entre dois veículos na Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo.
Na oportunidade, os motoristas dos dois veículos envolvidos na tragédia estavam com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) suspensa, sendo que um deles dirigia em velocidade acima do limite permitido, de 110 km/h.
Para especialistas, o caso reflete na prática os riscos oferecidos por condutores que dirigem acima da velocidade. “Foi uma tragédia que acabou vitimando aqueles que estavam em velocidade permitida, ou seja, que respeitavam as leis de trânsito”, explica o especialista em Mobilidade Urbana da Universidade Presbiteriana Mackenzie Luiz Vicente de Mello Filho.
Na análise do chefe do departamento de medicina de tráfego da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) Dirceu Rodrigues Alves Júnior, o caso deixa claro a dificuldade do motorista reduzir a velocidade rapidamente. “Provavelmente ele viu o carro em cima da hora de forma que não conseguiu frear a tempo”, afirma. Segundo ele, é necessário que veículos comecem a ser produzidos com dispositivos aptos para bloqueio de velocidade. “Caso contrário teremos outras tragédias.”
(Fonte: Setrans)